Talvez seja objetivo de todos os seres vivos procurarem o conforto. Claro, quando formulamos uma lei universal é sempre preciso se atentar às exceções. Elas sempre existem. Abençoados sejam aqueles que se chamam de exceção. Esses sim, almas livres, podem passar o limite do conforto e se aventurar em lugares desconhecidos sem perder a cabeça.
No meu caso, não sou exceção. Nunca fui. E imperiosamente aprendi o significado de conforto. Não sem antes entender que conforto nem sempre significa prazer, mas sobretudo, segurança. Tem gente que se sente confortável em uma situação merda, e por isso mesmo, não se move pra sair disso. Quem conhece o horror, sabe que as coisas podem sempre piorar, talvez seja melhor ter meu horror seguro.
Por anos, procurei vestir roupas que não me cabiam. Eram largas, mas eu as ajustava com cintos, laços e amarras. Não posso dizer que não funcionou. Me fiz homem, me fiz independente. Adquiri profissão e enfrentei alguns desafios. Mas há alguns anos, os rumos mudaram e os inimigos também. Me tornei o mais temido de todos, para mim mesmo. É impressionante a nossa capacidade de lutar contra si mesmo. não posso perder o controle, não posso enlouquecer.
Nesses anos, muita coisa mudou, menos isso. Uma sensação de que eu poderia me perder (de mim mesmo). Mas, como um autômato, segui adiante até outra lei universal se impor: a mãe Natureza tarda mas não falha.
Março, mês do meu aniversário, minha mente foi rompida. E com ela, todas as roupas possíveis para me vestir. Nu e enfrentando o medo real que sempre ecoou de forma abstrata em minha vida adulta e agora estava bem concreto, tive que recuar. Em tudo. Como um canguruzinho que procura instintivamente a bolsa de sua mãe, me fiz vulnerável pela primeira vez em anos. Me abri. Expus feridas pra quem quisesse perguntar. E admiti que eu já fui o que não sou mais (independente).
A dor, nem vou tentar descrever, ela é minha e só minha. O método incrível que colocou os humanos na Lua ainda não foi capaz de quantificar o abismo que é a mente. A ciência aproxima e conclui, nunca encerra nada. Mas a realidade de um morcego, que por desajuste de seu sonar esbarra numa parede e morre, é a mesma que uma invenção de nossa mente quando se trata de sofrimento. A parede, o sonar, a loucura, são reais.
Nessa busca, talvez os ditados populares consigam traduzir mais que o método que levou seres humanos para a Lua:
- O bom filho a casa retorna.
Pintura de Iman Maleki
duvido que existam mudanças totalmente confortáveis. eu torço por cada movimento seu, por mais que os processos possam te doer (faz parte, você sabe). lembra que estamos aqui <3